Ata de Fundação

Advertidos,

… quanto ao só que implica a relação à causa analítica;
… de que é necessário inovar, mas não sozinhos, para o que é preciso que cada um ponha de si; e
… de que esta escolha, de um a um, não pode se inscrever senão em um laço social inspirado no discurso analítico para acolher e investigar o advento do desejo de saber,

fundamos, neste ato, a Escola da Coisa Freudiana.

DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS

O nome desta instituição declara: Escola e Coisa Freudiana.

*Escola: para restaurar a lâmina cortante do campo institucional proposto por Lacan.

O fundamento é de doutrina. Assenta-se na definição de fim de análise que postula que não há no inconsciente o significante ‘analista’ ao qual se identificar. Isto implica que o analista só se autoriza de si mesmo e que a formação só pode ser permanente.

*Coisa Freudiana: para restaurar o campo fundamental,das Ding, proposto por Freud para nomear o real da experiência analítica.


I – Transmissão, ensino e formação

O trabalho institucional se define pelo anodamento entre: Transmissão, Ensino e Formação.


Da Transmissão:

O que se transmite, em Psicanálise, é a castração.

A transmissão só opera sustentada nessa verdade.

O efeito de transmissão requer um laço institucional: a transferência de trabalho.

A transferência de trabalho é o que resta do trabalho da transferência.


Do Ensino:

O inconsciente diz. A castração pontua. Da conjunção surge um ensino.

Quem ensina, portanto, é o analisante.

Não há proporção entre o que se aprende em uma análise e o que disso se pode ensinar.

A escola é necessária para dar lugar ao ensino.


Da Formação:

A Escola garante que da análise depende a formação.

Formação é a transformação da posição do sujeito.

Essa transformação é absoluta: a destituição subjetiva.

A Escola oferece a oportunidade da prova: o passe.


II – A escola: intensão e extensão

“É no horizonte mesmo da psicanálise em extensão que se enlaça o círculo interior que traçamos como hiância da psicanálise em intensão.” (Lacan, Proposição de 9 de Outubro… – 2ª versão)

A psicanálise em intensão é coextensiva ao passe.

A proposição do passe é o fundamento desta Escola.

O conceito se arranca do real. Isso só se faz em uma análise. Só o vivido em análise não basta. É preciso querer pô-lo à prova, formalizá-lo e transmiti-lo. A proposição de Lacan sobre o Analista da Escola obedece a uma ordem lógica que faz surgir das análises uma’seriação de sua variedade e as liberdades da clausura, e cujo resultado restaura a Psicanálise como experiência original.

A Escola existe para fazer avançar a Psicanálise. Esse avanço encontra seu momento privilegiado no passe. O dispositivo do passe traz a possibilidade de iluminar a zona mais íntima do ato analítico uma vez que percorre a fronteira entre o particular de uma análise e o universal da formalização. Portanto, assenta a autoridade na autorização. Com isso opera uma mudança no discurso e faz existir o gradus.

Não há significante do analista. Não há um saber constituído sobre o analista. O que há é um vazio de representação. Esse buraco remete à pergunta sobre a causa e o desejo do analista. É a questão que orienta e dirige esta Escola. A aposta é que se possa investigar e mostrar o que motiva um ser falante para autorizar-se analista.

“Nós partimos de que a raiz da experiência do campo da psicanálise colocado em sua extensão, única base possível para motivar uma Escola, deve se encontrar na experiência psicanalítica mesma, queremos dizer tomada em intensão.” (Lacan, Proposição de 9 de Outubro… – 1ª versão)

A Psicanálise em Extensão é coextensiva à política.

O funcionamento desta Escola está adscrito ao princípio de circulação: dissolução e permutação.

Da política – A política deriva do conceito. O conceito de política no discurso analítico se funda na falta-ser. Donde, o que dirige é a falta. Por consequência, o exercício da direção só pode ser um ato ético.

Da extensão – A extensão visa a função de presentificar a Psicanálise no mundo. Isso pressupõe a responsabilidade de zelar pela discussão e velar pelo discurso. Esta Escola toma a entrada como objeto de trabalho.

Do cartel – O cartel é o órgão de base desta Escola.

Curitiba, 5 de dezembro de 2003.